sábado, 5 de abril de 2008

Cegos, surdos e mudos?

As noticias sobre educação tornaram-se comuns, primeiro a guerra entre professores e a Sra. Ministra, agora e para tornar a guerra mais animada, a violência nas escolas.
Tudo isto é demasiado confuso para mim, há algumas coisas que me escapam.

1st round: Ministra 1 - Profesores 0 (Educação 0)
É muito fácil a ministra ganhar o primeiro round, tem os meios e as técnicas necessárias para tal. É uma tarefa fácil e simples.
Numa semana diz-se que os professores não trabalham, não educam, não ensinam, têm demasiadas férias, passam poucas horas na escola, faltam muito (espero não esquecer-me de nada). Na semana seguinte cria-se uma lei que obriga os professores passar mais tempo na escola, que os obriga a trabalhar (afinal é para isso que são pagos), que, finalmente, "os põe na ordem".
Não se fala nas horas que têm de trabalhar em casa, nas horas sem fim que passam em reuniões que terminam bem depois do seu horario de trabalho. Não se fala nos limites que têm para ensinar e essencialmente para avaliar. Não se fala na contagem de falta a cada 50 minutos (agora 45), nas férias em períodos limitados ou na falta de condições de trabalho.
É mais fácil convencer a opinião publica contando as coisas pela metade, eu diria mesmo que, é mais fácil governar ignorantes.
A opinião publica gosta das medidas, no fim de contas são eles que pagam (com os seus impostos) estes senhores preguiçosos...

2nd round: Ministra 1 - Professores 1 (educação 0)
Abençoado 1974.
Os professores cansam. Os professores esgotam. Os professores chegam ao seu limite.
Os professores reunem-se, saem à rua, gritam até perderem a voz (e nessa altura descansam um pouco e voltam a gritar), os professores vestem o luto que sentem há muito tempo.
A ministra nega descontentamentos. A ministra diz que não são professores. A Sra. ministra diz tantas coisas, abençoada liberdade de expressão, que a permite falar tanto quanto queira, mesmo quando a qualidade e veracidade não existem. Mas a ministra não consegue fazer desaparecer da Avenida da liberdade 100 mil professores, desculpem, 80 mil (façamos a vontade à Sra. Ministra, caramba, não é fácil ter tantos preguiçosos contra nós...).
A opiniao publica dá-se conta que, se calhar, há coisas que não foram ditas, que, se calhar, estes senhores não são tão preguiçosos, afinal desperdiçam um sábado para ir andar e gritar pelas ruas de Lisboa...Das duas uma, ou algo está realmente mal (80mil, 100mil ou 120 mil - não importa, qualquer desses números é muito alto), ou os professores são masoquistas.
Eu, pessoalmente, acho que as duas estão correctas.

3rd round: Ministra 1 - Professores 2 (Educação 0)
Parece que as escolas afinal não são sitios seguros, os jovens hoje são perigosos. Parece que não são escolas mas selvas. É a lei do mais forte, que, obviamente, não é o professor, que não pode chumbar, que não pode marcar faltas,que está sózinho, que tem um carro, que é avaliado pela avaliação que faz, que...que é o culpado de todos os males da educação (e quiçás do mundo).
Parece que afinal os alunos vão armados para a escola, e quando não vão armados, armam-se (as cadeiras, os sapatos, as canetas sempre foram boas armas).
E agora que se diz? E agora de quem é a culpa?

4th round (ainda por chegar): Educação 1 (ministra, professores e pais unidos)
Este dia está por chegar e, sinceramente, não estou segura de que viva para vê-lo, o que me preocupa. Preocupa-me porque a minha mãe é professora e gostava que um dia pudesse trabalhar tranquilamente, pudesse sair de casa com um sorriso na cara e dizer "vou ensinar". Preocupa-me porque espero um dia ter filhos, filhos que aprendam e sejam avaliados, que chumbem quando merecem, que sejam castigados quando faltarem ao respeito,que aceitem as diferenças. Preocupa-me porque o futuro de um pais está na educação (e devo dizer que o futuro de Portugal é mais escuro que o negro das capas universitárias).
Este dia será um dia em que a Ministra (que será outra, porque com esta é impossivel) irá à escola sem avisar, será o dia em que os professores são ouvidos, será o dia em que os pais exigem educação e não "positivas", será o dia em que o ministério dará condiçoes de trabalho aos professores e que os professores serão avaliados por comissões externas e por outras coisas que não as notas que se dão (e que não se esqueça que a carreira não são os ultimos sete anos, mas todos os dias-desde o primeiro).
Este dia será um dia em que se sentarão numa mesa redonda pessoas que sabem como são as escolas, que sabem como são os alunos, que sabem como vai a educação, que sabem fazer propostas e debate-las com os interessados, que sabem dialogar, que sabem que a educação não está na mão dos professores por si só, mas no ministério, nos pais, nos alunos, nos professores (obviamente), na sociedade e nas escolas. Que a educação é um direito de todos e que, por isso mesmo, todos devem fazer os possiveis para que seja um sucesso real.

Tudo isto me preocupa.
Mas mais que isto preocupa-me o facto de a sociedade se ter conformado em ser cega, surda e muda. É mais fácil não ver a realidade, não ouvir a razão e não falar sobre o que se deve quando se deve (mas só quando nos dizem para falar).
Em 2007/2008 "descobriu-se a pólvora"...a educação não funciona, os alunos são perigosos.
Pergunto: Nunca entraram numa escola?
É preciso um video no youtube ou um titulo no expresso (ou qualquer outro jornal) para que se torne realidade o que qualquer pessoa que entre numa escola pode ver?
Abramos os olhos e vejamos o que está aí diante deles: esta realidade não está escondida.
Abramos os ouvidos e ouçamos o que nos dizem mas especialmente o que não nos dizem.
Abramos a boca e digamos o que pensamos, preguntemos o que não nos dizem, exijamos o que nuncanos deram: a verdade e, acima de tudo, a vontade de mudar, mudar para melhor, porque para pior basta fazer o que sempre foi feito pela educação neste pais - nada.

[Nota: Não defendo os professores pela minha mãe, mas porque um dia fui aluna, porque entrei em várias escolas, porque conheço professores. Profissionais bons e maus há em todas partes, da mesma maneira que há bons e maus alunos, bons e maus governates. Da mesma maneira que há boas e más pessoas. Se acham que toda esta conversa é "um filme" que foi criado, entrem numa escola.]

Um comentário:

Å®t Øf £övë disse...

Cláu,
A juventude de hoje será o nosso país de amanhã. Infelizmente estamos a educar muito mal esta nossa juventude, e isso vai reflectir-se no futuro do nosso país, o qual não prevejo que seja lá muito risonho.
Talvez como dizes, e porque a esperança existe, as gerações futuras sejam educadas de forma diferente e muito mais lógica, mas nós que cá andamos agora já não iremos usufruir desse país melhor que se pode criar através dos jovens.
Bjs.