quarta-feira, 20 de maio de 2009

O tempo passa...

... e os problemas permanecem.

"Quando eu nasci as frases que vão salvar o mundo já estavam todas escritas, só faltava uma coisa: Salvar o mundo."
(*1)

Não podia ser mais verdade (não fosse este um dos meu Senhores preferidos).
Passados 60 anos da DUDH (Declaração Universal dos Direitos Humanos) e 15 da CIPD (Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, também conhecida como Conferência de Cairo) os problemas permanecem. Continuam a ser ignorados, violados e esquecidos direitos básicos. Continuam a ser ignoradas vontades proprias e a serem valorizadas culturas que não o são. Continua-se a estragar a sobreutilizar os recursos naturais como se estes fossem inesgotaveis.

Os países em vias de desenvolvimento, que representam 80% da população mundial, são responsaveis apenas por 23% da poluição ambiental. No entanto, estas alterações (negativas) de que todos somos somos -mais ou menos - responsaveis, vão ter um impacto maior nos países menos desenvolvidos, seja por questões populacionais ou por escassez de recursos (materiais e financeiros), estes países vão sentir consequências mais negativas do que os países ditos desenvolvidos. (*2)

A gravidez e o parto continuam a ser duas das principais causas de morte evitáveis em mulheres, tirando a vida a uma mulher por minuto (sim, uma por minuto!). Alguns dos factores responsáveis por esta situação são: a idade jovem das mulheres grávidas, a sucessão muito rápida de gravidezes, a falta de acesso aos cuidados de saúde e à contracepção, o número elevado de filhos/as, abortos inseguros e o VIH/SIDA. Tudo isto poderia seria evitavel se, de acordo com o estipulado em tantos documentos, as mulheres tivessem acesso a contracepção, a recursos médicos e, especialmente, se as mulheres tivessem poder de decisão. (*3)

A fome (e a pobreza extrema) continua a afectar milhões de pessoas pelo mundo sem que paremos para combate-la activamente. Não há verbas espirituais para isso, digo espirituais porque o nosso espirito não está "para aí virado", na realidade o dinheiro existe basta ver as quantias que milagrosamente apareceram (por todo o mundo) para combarter a actual crise.(*4)

O plano de acção de Cairo é assinado por 179 países. Passaram 15 anos sem que os objectivos tenham sido alcançados. É certo que os objectivos a que nos propusemos (quer na CIPD, quer nos Objectivos do Milénio, ou recuando ainda mais, na DUDH) foram objectivos muito ambiciosos mas a falta de vontade tem sido, talvez, o principal motivo pelo qual ainda não foram atingidos estes objectivos. Têm-se sentido avances mas não os suficientes, mesmo tendo em conta a ambição reflectida neles. "Os consensos estão todos assinados, os compromissos assumidos, falta efectuar a decisão de colocar as pessoas no centro da decisão e afectar verbas e recursos para os Direitos Humanos de cada pessoa, sobre tudo das que estão em situação de maior vulnerabilidade: as mulheres, os jovens e as crianças.(*5)".

Podemos continuar a virar a cara, para quê pensar nas consequências dos nosso actos? Para quê pensar em como estará o mundo daqui a alguns anos quando a natureza já não conseguir ficar calada? Para quê dar às mulheres o poder de decisão que precisam para salvar as suas vidas? Para quê pensar naquelas pobres almas que tiveram o azar de nascer na parte errada do globo e por isso não conseguem alimentar-se? Para quê pensar no poder que temos e pôr mãos a obra?
"Se não for por humanismo teremos de fazê-lo por inteligência (*6)" porque um dia quando as coisas estiverem ainda piores o nosso comportamento mudará e os governos e forças políticas terão obrigatoriamente de mudar de atitude. Pena que não o façam já.

"Nada é mais triste do que um "ser humano" acomodado.(*7)"




____
*1 - Almada Negreiros
*2 - in Population Action
*3 - APF
*4 - Nada contra o facto de tentarem contornar, terminar ou minimizar as consequencias da crise, só estou contra o cinismo e falta de vontade governativa, politica e económica.
*5 - Catarina Furtado in CIPD+15 (Gulbenkian, 19 de Maio 2009)
*6 - Fernando Nobre in Novas respostas a novos desafios: Solidariedade (Inatel, 12 Maio 2009)

Nenhum comentário: