segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A nova campanha eleitoral...

...Um pequeno balanço

Um dia, já há algum tempo, numa conversa com o meu pai dei-me conta de que gosto de politica. Digo "dei-me conta" porque até então pensava não gostar. O que acontece é que eu disse qualquer coisa como "eu gosto mais ou menos de política", e o meu pai disse qualquer coisa como "não há gostar mais ou menos no que respeita política, e quando gostas de falar sobre politica, gostas de politica". Passados alguns anos tenho de lhe dar razão, gosto de política, gosto de criticar, de me rir, de desesperar, de estar de (des)acordo, com esses senhores(as) politicos(as) que governam Portugal (e não só) e que muito deixam a desesperar.

Falta pouco menos de uma semana para as eleições legislativas e dei-me conta de algumas coisas que me obrigam a perguntar como é possível que tenha tirado uma licenciatura, isto porque:
-Em plena campanha eleitoral (que em alguns momentos se mistura a das legislativas e a das autarticas) dou-me conta que existem cartazes do CDS para Sintra, em plena rotunda da falagueira.... eu achava que falagueira, brandoa, e venda nova são freguesias do Concelho da Amadora, mas pelos vistos a minha geografia deixa muito a desejar;
- Em pleno tempo de antena há um spot do PS em que enquanto está escrito 98765 o narrador diz-se "mais de cem mil"*1....deduzo com isto que a matemática também deveria ter chumbado;

Enfim....é o que eu considero rigor, atenção e inteligência!

Um ultimo comentário, um pouco mais sério, chateia-me que os professores se tenham juntado a outros dois grupos, o dos homossexuais e o dos ecologistas. Nada contra estes dois grupos, bem pelo contrário, mas chateia-me que esses três grupos sejam constantemente esquecidos e milagrosamente, de quatro em quatro anos, todos queiram ser seus amigos, inclusive aqueles que nos quatro anos antes nada fizeram por eles...

quarta-feira, 20 de maio de 2009

O tempo passa...

... e os problemas permanecem.

"Quando eu nasci as frases que vão salvar o mundo já estavam todas escritas, só faltava uma coisa: Salvar o mundo."
(*1)

Não podia ser mais verdade (não fosse este um dos meu Senhores preferidos).
Passados 60 anos da DUDH (Declaração Universal dos Direitos Humanos) e 15 da CIPD (Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, também conhecida como Conferência de Cairo) os problemas permanecem. Continuam a ser ignorados, violados e esquecidos direitos básicos. Continuam a ser ignoradas vontades proprias e a serem valorizadas culturas que não o são. Continua-se a estragar a sobreutilizar os recursos naturais como se estes fossem inesgotaveis.

Os países em vias de desenvolvimento, que representam 80% da população mundial, são responsaveis apenas por 23% da poluição ambiental. No entanto, estas alterações (negativas) de que todos somos somos -mais ou menos - responsaveis, vão ter um impacto maior nos países menos desenvolvidos, seja por questões populacionais ou por escassez de recursos (materiais e financeiros), estes países vão sentir consequências mais negativas do que os países ditos desenvolvidos. (*2)

A gravidez e o parto continuam a ser duas das principais causas de morte evitáveis em mulheres, tirando a vida a uma mulher por minuto (sim, uma por minuto!). Alguns dos factores responsáveis por esta situação são: a idade jovem das mulheres grávidas, a sucessão muito rápida de gravidezes, a falta de acesso aos cuidados de saúde e à contracepção, o número elevado de filhos/as, abortos inseguros e o VIH/SIDA. Tudo isto poderia seria evitavel se, de acordo com o estipulado em tantos documentos, as mulheres tivessem acesso a contracepção, a recursos médicos e, especialmente, se as mulheres tivessem poder de decisão. (*3)

A fome (e a pobreza extrema) continua a afectar milhões de pessoas pelo mundo sem que paremos para combate-la activamente. Não há verbas espirituais para isso, digo espirituais porque o nosso espirito não está "para aí virado", na realidade o dinheiro existe basta ver as quantias que milagrosamente apareceram (por todo o mundo) para combarter a actual crise.(*4)

O plano de acção de Cairo é assinado por 179 países. Passaram 15 anos sem que os objectivos tenham sido alcançados. É certo que os objectivos a que nos propusemos (quer na CIPD, quer nos Objectivos do Milénio, ou recuando ainda mais, na DUDH) foram objectivos muito ambiciosos mas a falta de vontade tem sido, talvez, o principal motivo pelo qual ainda não foram atingidos estes objectivos. Têm-se sentido avances mas não os suficientes, mesmo tendo em conta a ambição reflectida neles. "Os consensos estão todos assinados, os compromissos assumidos, falta efectuar a decisão de colocar as pessoas no centro da decisão e afectar verbas e recursos para os Direitos Humanos de cada pessoa, sobre tudo das que estão em situação de maior vulnerabilidade: as mulheres, os jovens e as crianças.(*5)".

Podemos continuar a virar a cara, para quê pensar nas consequências dos nosso actos? Para quê pensar em como estará o mundo daqui a alguns anos quando a natureza já não conseguir ficar calada? Para quê dar às mulheres o poder de decisão que precisam para salvar as suas vidas? Para quê pensar naquelas pobres almas que tiveram o azar de nascer na parte errada do globo e por isso não conseguem alimentar-se? Para quê pensar no poder que temos e pôr mãos a obra?
"Se não for por humanismo teremos de fazê-lo por inteligência (*6)" porque um dia quando as coisas estiverem ainda piores o nosso comportamento mudará e os governos e forças políticas terão obrigatoriamente de mudar de atitude. Pena que não o façam já.

"Nada é mais triste do que um "ser humano" acomodado.(*7)"




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*1 - Almada Negreiros
*2 - in Population Action
*3 - APF
*4 - Nada contra o facto de tentarem contornar, terminar ou minimizar as consequencias da crise, só estou contra o cinismo e falta de vontade governativa, politica e económica.
*5 - Catarina Furtado in CIPD+15 (Gulbenkian, 19 de Maio 2009)
*6 - Fernando Nobre in Novas respostas a novos desafios: Solidariedade (Inatel, 12 Maio 2009)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

25 de Abril SEMPRE

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É em tributo à liberdade de expressão que este número «censurado» faz sentido.
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Enquanto estiver a ler os textos que se seguem lembre-se de uma coisa: neste número, as palavras, as ideias e as realidades que retratam, e que foram objecto desta «censura» simulada, aparecem cortadas ou sublinhadas, e acompanhadas dos carimbos que a Censura usava nas provas dos textos produzidos pelos jornalistas. Há 35 anos, na prática diária do regime, aqueles trechos cortados eram realidades, pura e simplesmente, apagadas, realidades que deixavam de existir por força do lápis azul do censor.
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Nestas circunstâncias, quem conhecesse Portugal apenas através da leitura dos jornais acreditaria que viviamos no país das maravilhas. É que não havia aqui prisões políticas, nem contestação do regime, não havia greves nem manifestações de protesto, não se traficava droga, ninguém se suicidava, nenhuma mulher se prostituía, não havia mendigos, nem bairros da lata, nem epidemias, nem bairros de lata, nem epidemias, nem deliquentes menores, nem violações, nem pedófilos, nem infanticidas, não estávamos na cauda da Europa nos indicadores culturais, sociais e económicos, nem existia corrupção. César Príncipe comenta: «Assim se escreve a História: a grande como a pequena. Não espanta que, só depois do 25 da Abril, certas camadas populares e pequeno-burguesas teçam pessimismos em relação à liberdade. Antes (...) não se assistia a esta 'pouca vergonha' de se conhecer o que sucede.»
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Neste contexto, não surpreende que, em Março de 1964, numa nota dirigida pelos censores às redacções se avisasse: «Quanto aos acontecimentos na Niassalândia (...) cortar todas as notícias relativas a violências executadas sobre os pretos pelos brancos. Não dar publicidade às atitudes antinativas das tropas locias europeias na repressão da revolta (...) Não há inconveniente em que se relatem violências exercidas pelos negros sobre os brancos nem que se diga que os motins são instigados pelos comunistas.»
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Chega, assim, a ser revoltante o cinismo com que Salazar responde ao chefe de Redacção do jornal O globo a quem concedeu uma entrevista em 1961. Conta Cândido de Azevedo (A censura de Salazar e Marcelo Caetano): « À pergunta do joranlista Alves Pinheiro: suspendendo a censura à Imprensa não eliminaria um dos mais poderosos motivos de má vontade contra o Governo?, Salazar pondera e responde: 'Mas, em rigor, não temos censura aqui. Os jornais circulam tal como são redigidos e impressos, sem alteração de uma linha. Existe uma Comissão de Censura que, todavia, praticamente nada tem que fazer.' O jornalista brasileiro observa: 'Precaução dos jornais, Presidente. Eles já sabem o que podem e o que não podem divulgar.' O primeiro-ministro ri. Não sorri, apenas. Ri satisfeito e exclama: 'Exactamente. Era a tal conclusão que eu desejaria que chegasse o senhor. O Governo conseguiu disciplinar a Imprensa, torná-la um elemento construtivo e não uma força deletéria, demolidora (...).»
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Em Depoimento, livro que escreveria em 1974, no Rio de Janeiro, onde se exilou após o 25 de Abril, Marcelo Caetano afirma, a justificar a manutenção, durante o seu consulado, do silenciamento da Imprensa: «Quase meio século de censura desabituara os jornalistas do sentimento das responsabilidades, a começar pelos directores dos jornais que comodamente descarregavam sobre os censores o encargo de dizerem se um texto devia ou podia ser publicado. Era preciso fazer a reeducação progressiva de todos estes elementos.»
O periodo de reeducação com vista às prometidas mas nunca concretizadas liberdades havia de prosseguir até à Revolução de Abril.



Daniel Ricardo - Linha Directa Especial
in VISÃO (Nº842, 23 a 29 de Abril)

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Não fazem falta comentários.
Sem nunca o ter vivido, mas vivendo-o todos os dias, esta é a minha data de eleição.